quinta-feira, 9 de julho de 2009

Guido Mantega: os bancos públicos contra a crise (do Blog do Rodrigo Vianna)

Acompanhei - em São Paulo - a posse do novo presidente da Nossa Caixa, Demian Fiocca. Foi uma solenidade importante, porque mostrou que os bancos públicos têm um papel central na estratégia do governo brasileiro para combater a crise econômica.

Demian Fiocca já presidiu o BNDES, foi assessor de Mantega no Ministério do Planejamento, e tem ampla experiência no setor privado. É um caso raro: um economista de 40 e poucos anos, formado em São Paulo, com experiência no "mercado", mas que não pensa com a cabeça dos "mercadistas".

Demian nunca achou que o Brasil "precisa fazer a lição de casa" - como diziam as consultorias que ditaram regras no Brasil dos anos 90.

O Ministro da Fazenda, Guido Mantega fez questão de comparecer à posse (também estavam lá Miguel Jorge, do Desenvolvimento, e Luciano Coutinho, presidente do BNDES). Ele fez uma palestra esclarecedora. Mantega mostrou como, depois da crise (de setembro de 2008 pra cá), os bancos públicos sustentaram a concessão do crédito no Brasil.

As informações de Mantega vieram em gráficos que podem ser vistos aqui http://www.fazenda.gov.br/portugues/documentos/2009/p220609.pdf (os gráficos estão nas paginas 18 a 21 dessa apresentação publicada no site do Ministério da Fazenda).

A Nossa Caixa - que era um banco do Estado de São Paulo - foi comprada pelo Banco do Brasil no fim de 2008.

Em vez de simplesmente incorporar a Nossa Caixa ao BB, o ministro Mantega resolveu nomear Demian Fiocca para presidi-la, nesse periodo de transição. O objetivo é claro: transformar a Nossa Caixa em mais uma ferramenta de combate à crise, oferecendo crédito mais barato às empresas e consumidores.

Os tucanos abriram mão de ter um banco em São Paulo. E pelo que foi dito os tucanos administravam o bancom com certa leniência (para ser bem educado).

Nem estou falando dos escândalos na era Alckmin - http://www.viomundo.com.br/apoiamos/a-cpi-que-nunca-foi/.

Falo da gestão técnica do banco. Alguns pontos:

1) Na gestão tucana, a Nossa Caixa não oferecia empréstimo consignado a aposentados (algo inexplicável, já que o banco tem milhares de clientes aposentados, principalmente no interior paulista);

2) Os cartões da Nossa Caixa até hoje não tinham "chip" - o que facilitava as fraudes (o banco, com 10% da movimentação bancária em São Paulo, era responsãvel por 30% das fraudes registradas com cartões);

3) A Nossa Caixa não oferecia nenhuma linha de crédito específica para micro, pequenas e médias empresas.

Hoje mesmo, Fiocca lançou uma linha especial para atender esse perfil de empresas em São Paulo: serão 1,5 bilhão de reais, para empréstimos com prazos de até 36 meses pra pagar, e juros a partir de 1,55% ao mês.

Outra novidade importante: a nova linha da Nossa Caixa (chamada de Giro Nossa Caixa Flex) terá prazo de carência. Ou seja: o empresário pega a grana e só começa a pagar depois de alguns meses (até 180 dias).

É um alívio para recompor capital de giro de quem sofreu com a crise.

Conto tudo isso não pra fazer propaganda, mas pra mostrar que medidas assim é que estão ajudando o Brasil a sair da crise antes do que outros países.

Os tucanos abrem mãos dos bancos públicos. Colunistas tucanos pregam contra o pacote de Mantega (dizem que o governo está se descuidando na área fiscal). Essa turma pensa com a cabeça dos anos 90.

A turma da CBN prefere o Malan (aquele ministro que - depois de domar a inflação - levou o país à bancarrota no governo FHC) - http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/sabio-da-cbn-detesta-mantega-e-adora-malan

Eu prefiro o Mantega.

Ainda bem que o Mantega não é o Palocci.

E ainda bem que o Brasil (apesar da onda privatista dos anos 90) manteve bancos públicos. São ferramentas decisivas na hora da crise.

Por causa dos bancos públicos (CEF, Banco do Brasil, BNDES, Nossa Caixa e outros poucos), e por causa das medidas de incentivo fiscal adotadas por Mantega/Lula, o Brasil vai sair da crise (já começou a sair) antes dos outros.

O Brasil vai sair da crise maior do que entrou.

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